TDAH em mulheres: como a menopausa interfere nos sintomas

A menopausa é uma fase marcada por diversas transformações no corpo e na mente da mulher. A interrupção do ciclo menstrual traz consigo a queda significativa de hormônios como o estrogênio e a progesterona.
Essas alterações hormonais vão além dos sintomas físicos comuns, como as ondas de calor. Elas também impactam funções neurológicas, podendo agravar ou revelar sintomas do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em mulheres adultas.
Como a queda hormonal influencia o TDAH
O TDAH está relacionado a níveis reduzidos de neurotransmissores como dopamina e noradrenalina, que são responsáveis pela comunicação entre os neurônios.
Estrogênio e progesterona ajudam a regular essas substâncias no cérebro. Na menopausa, a queda desses hormônios pode comprometer ainda mais o funcionamento dos neurotransmissores.
“A mulher acaba dependendo do estrogênio e da progesterona para que essa dopamina e noradrenalina funcionem. Se esses níveis já estão comprometidos e ela perde os hormônios que facilitam o funcionamento, os sintomas relacionados ao TDAH vão ficar evidentes”, explica o psiquiatra Rodrigo Borghi.
Por que os sintomas podem piorar ou surgir na menopausa
Com a queda hormonal, mulheres que já tinham TDAH diagnosticado podem perceber um retorno ou intensificação dos sintomas mesmo estando em tratamento.
Entre os sinais mais comuns estão desatenção, esquecimento no dia a dia, dificuldade em organizar, planejar e priorizar tarefas.
“Tanto que algumas dessas mulheres podem achar que estão com algum problema relacionado à idade, algumas começam a suspeitar de demência, por terem um TDAH que estava sob controle e os sintomas piorarem ou voltarem na menopausa”, alerta Borghi.
Quando o TDAH nunca foi diagnosticado
Há também mulheres que nunca tiveram o diagnóstico de TDAH antes da menopausa. Elas podem ter usado estratégias inconscientes ao longo da vida para mascarar os sintomas.
Com a ausência dos hormônios que auxiliavam esse equilíbrio, essas estratégias deixam de funcionar. Os sintomas passam a se manifestar com maior intensidade e interferência funcional.
“Mesmo com prejuízo, elas não percebiam os sintomas, ou atribuíam a características da personalidade. O TDAH muitas vezes é diagnosticado como outros transtornos, como depressão e ansiedade (…)”, complementa Borghi.

Ele continua: “…e muitas dessas mulheres vão perceber que aquilo que elas tinham dificuldade com a atenção, com controle de impulso, com esquecimento, com a dificuldade de interromper comportamentos, de se acalmar ou de se autorregular com facilidade, fica ainda mais desfuncional”.
O diagnóstico e o tratamento do TDAH em mulheres adultas
Diferente das crianças, que costumam receber diagnóstico de TDAH por dificuldade de aprendizado, nos adultos os sintomas podem ser menos evidentes. Eles incluem enxurrada de pensamentos, impulsividade e problemas nos relacionamentos e no trabalho.
“É a caraterística daquela pessoa que começa a fazer uma atividade e, no meio dela, parte para outra. Normalmente faz isso por que sua mente tem dificuldade em manter atenção”, explicou a psicóloga Lala Fonseca.
O diagnóstico do TDAH em adultos é clínico, realizado por psiquiatras ou neurologistas com base nos sintomas. Exames de imagem, como ressonância magnética ou eletroencefalograma, não são necessários.
Como aliviar os sintomas durante a menopausa
O tratamento costuma combinar medicação com terapia comportamental. Além disso, mudanças no estilo de vida ajudam a minimizar os efeitos.
A recomendação é reduzir o consumo de açúcar, alimentos ultraprocessados e frituras, que podem piorar o desempenho cognitivo.
Ao notar sintomas persistentes de desatenção ou impulsividade durante a menopausa, o ideal é buscar ajuda especializada para uma avaliação criteriosa e orientação adequada.