O Segundo Pilar Invisível: Por que Sem Contrainteligência, Nenhuma Inteligência Está Segura.

O Segundo Pilar Invisível: Por que Sem Contrainteligência, Nenhuma Inteligência Está Segura.
Publicado em 22/07/2025 às 8:44

Brian Benigno – Especialista em Contrainteligência, Segurança Orgânica e Proteção ao Conhecimento Sensível. Diretor Executivo Comercial e Operacional da Infinity Safe.

No artigo anterior, exploramos o conceito de Inteligência sob uma ótica introdutória destacando seu papel como ferramenta de apoio à tomada de decisão, antecipação de riscos e aumento da competitividade. Mas há um detalhe incômodo, muitas vezes ignorado até pelas melhores estruturas organizacionais: só existe inteligência segura quando há contrainteligência.

Contrainteligência é o pilar silencioso, invisível, mas absolutamente essencial para qualquer organização que lide com dados sensíveis, propriedade intelectual, processos estratégicos ou decisões críticas.

Afinal, o que é contrainteligência?

De forma simples, a contrainteligência (CI) é a ciência de proteger a inteligência. Seu objetivo é detectar, identificar, obstruir e neutralizar ações adversas sejam elas conduzidas por concorrentes desleais, insiders mal-intencionados, agentes externos ou tecnologias de espionagem modernas.

Ao contrário do que muitos pensam, contrainteligência não é paranoia. É previsibilidade. É controle. É resiliência. E, principalmente, é prevenção.

Por que isso importa mais do que nunca?

Estamos em um cenário onde investir em cibersegurança se tornou mandatório firewalls, antivírus, criptografia, backups em nuvem. Tudo isso é vital, mas… e o ambiente físico? E os colaboradores? E os dispositivos ocultos? E as ameaças que não vêm pela rede?

É aí que entra a contrainteligência: ela fecha as brechas humanas, físicas e comportamentais que os sistemas não conseguem detectar.

E não se trata apenas de proteger informações. Trata-se de preservar o ativo mais estratégico de qualquer organização moderna: o conhecimento.

Um alerta vindo de cima: a Nota Técnica do Banco Central

Em julho de 2025, o Banco Central do Brasil (BCB) emitiu a Orientação Técnica 01/2025, recomendando explicitamente a realização de varreduras físicas e lógicas em ambientes tecnológicos de instituições financeiras e de pagamento. Isso inclui a identificação de dispositivos ocultos conectados à rede, inspeção em ambientes externos, e medidas preventivas contra cooptação de colaboradores.

A recomendação é clara: não basta blindar o sistema; é preciso inspecionar o território.

E vale lembrar: a LGPD impõe penalidades severas por falhas na proteção de dados. A ausência de contramedidas técnicas, como as proporcionadas pela contrainteligência, pode custar caro financeiramente e reputacionalmente.

Custo ou investimento?

A maior barreira para a aplicação de medidas de contrainteligência não é técnica é cultural.

Muitos ainda enxergam a inspeção física, os treinamentos de awareness, os protocolos de controle comportamental como “custos supérfluos”. No entanto, como nos ensina a doutrina da segurança orgânica, prevenir é sempre mais barato do que remediar principalmente quando o remédio não apaga o dano reputacional.

A colaboração entre setor público e iniciativa privada é fundamental nesse contexto. O combate à espionagem, ao vazamento de informações e à sabotagem começa dentro das instituições, com políticas estruturadas, profissionais capacitados e medidas combinadas de inteligência, contrainteligência e cibersegurança.

No próximo artigo, vamos explorar os tipos de ameaças silenciosas que a contrainteligência moderna enfrenta e como varreduras ambientais, análise de perfis e ferramentas tecnológicas podem ser aplicadas em conjunto para criar blindagem operacional.

Se você atua em segurança, tecnologia, jurídico, compliance ou governança, este debate é seu e precisa começar agora.