O que acontece com o sangue que você doa? Entenda o caminho até salvar vidas

Junho Vermelho é o mês de conscientização sobre a importância da doação de sangue, um ato simples que pode salvar muitas vidas.
Mas você sabe o que realmente acontece com o sangue doado até ele chegar a quem precisa? Em entrevista à Catraca Livre, o dr. Leandro Felipe Figueiredo Dalmazzo, vice-presidente e médico do Grupo GSH, explicou todas as etapas desse processo.
O que acontece com o sangue doado? Entenda todo o processo a seguir:
1ª etapa: ocorre a coleta de sangue
O primeiro passo, como todos sabem, é alguém doar o sangue, que é armazenado em bolsas especificas.
Para doar, é preciso ter entre 16 e 69 anos (menores de 18 com autorização dos responsáveis), pesar mais de 50 quilos e estar em boas condições de saúde.
No dia da doação, é importante estar descansado, alimentado e apresentar um documento oficial com foto. Alguns impedimentos temporários incluem gripes, febre, uso recente de certos medicamentos, cirurgias recentes ou tatuagens feitas há menos de um ano.
Para saber onde doar, basta acessar o site do Hemocentro do seu estado ou procurar o serviço de saúde mais próximo.

2ª etapa: o sangue doado vai para o laboratório e passa por testes
Depois da coleta, ele é transportado até o laboratório de fracionamento do banco de sangue. No laboratório, ele passa por diferentes testes para garantir sua segurança, um verdadeiro pente-fino.
“São realizados testes para detectar doenças transmissíveis, como HIV, hepatites B e C, sífilis, HTLV e doença de Chagas”, revela o especialista.
Também são feitas tipagens sanguíneas, pesquisas de hemoglobinas anômalas e anticorpos irregulares.
Embora existam protocolos rigorosos para minimizar perdas, nem todo sangue doado é usado: “ele pode ser descartado em casos de testes positivos para doenças infecciosas ou vencimento do prazo de validade, por exemplo.”

3ª etapa: o sangue é separado em diferentes partes
Pois é! O sangue é separado em hemácias, plaquetas, plasma e, em alguns casos, também em crioprecipitado.
“Essa separação permite que cada componente seja utilizado conforme a necessidade do paciente, otimizando o uso de uma única doação para beneficiar várias pessoas”, complementa.
De acordo com o Ministério da Saúde, uma bolsa de sangue pode beneficiar até quatro pessoas.

O tempo para que o sangue esteja pronto para uso é curto: “Em média, 24 horas. Esse tempo é necessário para realizar todos os testes, processar e liberar os componentes com segurança.”
Vale destacar que, em casos de emergência, parte desse processo pode ser agilizada.
Cada componente tem um prazo diferente de validade:
- Hemácias: até 42 dias refrigeradas;
- Plaquetas: até 5 dias com agitação constante;
- Plasma e crioprecipitado: até 1 ano, congelados.
4ª etapa: transfusão e o sangue chega a quem precisa
A triagem tem início com a identificação do tipo sanguíneo e do fator Rh do doador. A partir dessas informações, são aplicadas as regras de compatibilidade para determinar quais pacientes podem receber aquele sangue.
A compatibilidade entre doador e receptor é essencial, e isso envolve testes detalhados: “Antes da transfusão, é feito o teste de compatibilidade (prova cruzada) entre o sangue do doador e o do receptor”, afirma o dr. Leandro.
Todo o processo é controlado por sistemas informatizados, testes laboratoriais rigorosos e etiquetas com códigos de barras, que garantem rastreabilidade.
“É importante ressaltar também, que, durante a transfusão, o paciente é monitorado de perto para qualquer sinal de reação adversa.”
E se a necessidade for em outro estado? “O sangue pode ser usado localmente ou enviado para outras regiões, conforme a necessidade”, comenta.

Os bastidores que garantem segurança total
Por trás de cada transfusão, existe uma cadeia de profissionais e protocolos de segurança invisíveis ao público, mas absolutamente essenciais.
“O que poucos veem é a complexa rede de controle, segurança e logística por trás de cada transfusão”, reforça dr. Leandro.
Participam do processo:
- Técnicos e enfermeiros na coleta;
- Biomédicos e farmacêuticos nos testes laboratoriais;
- Técnicos de laboratório no fracionamento;
- Médicos hematologistas que avaliam e liberam os componentes para uso.
O médico finaliza ressaltando que profissionais acompanham todas as fases do processo: “Desde a triagem clínica, o rigor dos testes laboratoriais, o armazenamento controlado, até a análise detalhada da compatibilidade entre doador e receptor. Há também equipes monitorando indicadores de qualidade e realizando auditorias constantes, tudo para que o sangue chegue seguro a quem mais precisa, no momento certo.”
Doar é só o começo
Doar sangue é um ato de generosidade. E por trás dele, existe um sistema complexo e seguro.
Neste Junho Vermelho, mais do que nunca, é hora de entender e valorizar o caminho que o sangue percorre até salvar vidas.
Se puder, doe. E incentive outras pessoas a fazerem o mesmo. Cada bolsa conta e pode fazer toda a diferença.
Para a campanha Junho Vermelho, a Catraca Livre prepara uma série de reportagens especiais para informar, conscientizar e incentivar todos vocês a doarem sangue. Saiba mais clicando aqui.