O Olhar do deus Janus Sobre a Pluralidade das Emoções.

Colunista: Helena Cardoso.
Contadora, Orientadora Empresarial, Psicanalista e Palestrante nas áreas de Desenvolvimento Pessoal e Profissional.
Vivemos em uma era de intensas mudanças e desafios, onde cada indivíduo se vê confrontado diariamente por uma miríade de sentimentos e emoções. Não é de hoje que buscamos o autoconhecimento como uma ferramenta poderosa para lidar com as frustrações que a vida inevitavelmente nos impõe. Inspirado na figura do deus Janus, cuja dualidade simboliza a capacidade de enxergar o passado e o futuro, este artigo propõe um mergulho na complexidade emocional humana e na necessidade de adquirir uma percepção multifacetada para reduzir o sofrimento e resolver os dilemas cotidianos.
Janus, um deus da Mitologia Romana, com suas duas faces, nos convida a olhar para dentro e para fora simultaneamente. Em um mundo onde a polarização de ideias e sentimentos parece dominar, o simbolismo desse deus nos lembra que cada situação possui, intrinsecamente, dois ângulos: o que foi e o que poderia ser. Assim, o caminho para o equilíbrio emocional passa pela disposição para refletir sobre experiências passadas e projetá-las à luz de novas possibilidades. Essa capacidade de “ver por dois lados” é, ao mesmo tempo, uma lição milenar e um imperativo contemporâneo: reconhecer a dualidade das nossas emoções torna o enfrentamento de desafios uma oportunidade de crescimento pessoal.
O autoconhecimento é o primeiro passo nessa jornada. Ao dedicar tempo para entender nossas emoções, identificamos padrões que podem estar levando-nos a ciclos viciosos de frustração e sofrimento. Muitas vezes, perpetuamos comportamentos e reações automáticas porque não nos permitimos questionar as raízes de nossos sentimentos. Como Janus que observa as transições entre os momentos, devemos aprender a identificar o que nos impulsiona, seja o medo, a ansiedade, a raiva ou até mesmo a súbita sensação de esperança. Essa reflexão não apenas nos ajuda a compreender nossos limites, mas também nos ensina a construir pontes entre o que somos e o que queremos ser.
Em uma sociedade cada vez mais acelerada, onde os estímulos externos frequentemente nos empurram para a sobrecarga emocional, a prática do autoconhecimento se transforma em uma ferramenta essencial para a saúde mental. Não se trata de eliminar as emoções negativas, mas de abraçá-las como parte do processo de crescimento. Ao reconhecê-las, podemos tomar medidas conscientes para gerenciar a dor e aprender com ela. Por exemplo, em momentos de raiva, é fundamental fazer uma pausa para refletir: de onde vem essa sensação? Qual é o seu verdadeiro propósito? Tais perguntas nos aproximam de uma compreensão mais profunda do nosso íntimo, desvelando a ligação intrínseca entre nossas emoções e as experiências que as moldaram.
O simbolismo de Janus também nos instiga a considerar que o sofrimento pode ser transformado em aprendizado. Quando encaramos os desafios através de uma perspectiva dual, somos capazes de perceber que, muitas vezes, a frustração de um momento é a semente de um novo crescimento. Ao refletir sobre os erros e acertos, transformamos as experiências dolorosas em lições para o futuro. Essa postura não é uma negação dos sentimentos negativos, mas um convite para que possamos olhar para eles com compaixão e, dessa forma, transformar o impacto emocional em uma força propulsora para mudanças positivas.
Outra vertente que merece destaque é a importância de desenvolver uma mente aberta e flexível. A pluralidade de sentimentos e o desequilíbrio emocional podem ser enunciados como fatores que enriquecem a nossa experiência humana, desde que saibamos administrá-los com inteligência e empatia. Aprender a ver o mundo através de diferentes ângulos não significa negar a complexidade das emoções, mas sim cultivar a habilidade de reconhecer que cada experiência possui múltiplas camadas. Essa visão multidimensional proporciona uma melhor adaptação frente aos desafios, permitindo que a trajetória pessoal seja marcada não apenas por altos e baixos, mas por um contínuo aprendizado sobre si mesmo.
Vivenciar o autoconhecimento é, antes de tudo, aceitar que somos seres em constante evolução. Nenhum caminho é linear, e os momentos de estagnação e confusão fazem parte do processo de transformação. Assim, a dualidade de Janus nos serve de metáfora para entender que cada fim é, na realidade, um prelúdio para um novo começo. Ao abordar a vida com essa consciência, permitimos que os sentimentos conflituosos sejam o alicerce para a construção de uma existência mais plena e harmônica. A coragem de olhar para dentro é o primeiro passo para enfrentar e resolver problemas de maneira mais consciente e com menos sofrimento.
Em síntese, a multiplicidade de sentimentos e emoções é um reflexo da complexidade humana. Ao adotarmos a perspectiva dual inspirada em Janus, aprendemos a valorizar tanto as sombras quanto as luzes que compõem a nossa essência. O autoconhecimento torna-se, dessa forma, uma prática imprescindível para superar desafios, transformar frustrações em oportunidades e, finalmente, cultivar uma vida mais alinhada com os propósitos internos. Que esta reflexão inspire cada leitor a abraçar a sua própria dualidade e a encontrar, no espelho de Janus, os caminhos para uma existência mais equilibrada e significativa.
Quer saber mais? Você pode entrar em contato com a colunista através do email: [email protected]