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Game na palma da mão

Game na palma da mão
Publicado em 17/04/2025 às 13:16

“A cultura gamer está se transformando e se expandindo com o mobile – Foto: istock

Jogar videogame já foi privilégio de poucos. Era preciso ter um console caro, uma TV dedicada e, de preferência, nenhum irmão querendo mudar de canal. Mas nos últimos anos, essa realidade mudou — e mudou bonito. Hoje, o celular se tornou o grande protagonista do universo gamer no Brasil. E isso não aconteceu por acaso: é resultado de uma transformação silenciosa, mas profunda, que mistura economia, cultura, tecnologia e, acima de tudo, acessibilidade.

“No geral, quando a gente está falando sobre jogos mobile, a gente está falando muito sobre acessibilidade”, afirma Renan Barreto, gerente geral da Brasil Game Show. Para ele, os consoles continuam sendo objetos de desejo, mas ficaram cada vez mais distantes da realidade da maioria dos brasileiros. “Hoje os consoles são um pouco menos acessíveis do ponto de vista não só de preço, mas também de utilização”, explica.

Essa mesma percepção é compartilhada por Maite Lorente, Mobile Marketing Manager LATAM da Ubisoft. Ela vai direto ao ponto: “É muito caro a gente ter um console e conseguir manter os games da época”. Segundo Maite, o celular já está presente no cotidiano das pessoas, principalmente nas periferias, e por isso passou a ocupar o espaço que antes era do console. “Com um celular de R$ 700, eu consigo baixar um Free Fire, por exemplo, e jogar com a galera”, pontua.

Maite Lorente, Mobile Marketing Manager LATAM da Ubisoft
Maite Lorente, Mobile Marketing Manager LATAM da Ubisoft – foto: divulgação agencia drone

Mas essa revolução não se resume ao preço dos aparelhos. O modelo de consumo também mudou. Em vez de comprar um jogo completo por centenas de reais, hoje é possível entrar no universo gamer por meio dos chamados jogos como serviço — gratuitos para baixar, com compras internas opcionais. “Os jogos de celular tendem, em sua maioria, a não serem jogos premium, mas jogos como serviço. Então já tem essa lógica: o jogo é baixar e jogar”, explica Renan. Maite complementa: “Isso faz com que as pessoas possam jogar mais”.

Renan Barreto, gerente geral da Brasil Game Show.
Renan Barreto, gerente geral da Brasil Game Show. – foto: divulgação agencia drone

E tem mais: o celular é portátil. Dá para jogar no transporte, na fila do SUS, no intervalo da escola. Essa mobilidade amplia o alcance e muda o perfil dos jogadores. “Hoje em dia, para boa parte dos jovens, o primeiro aparelho para jogar é o celular”, observa Renan. 

Para o público casual, o que importa é curtir. “O jogador casual quer se divertir. Ele pode jogar no PC, no console, no celular… hoje até nas TVs. O importante é aproveitar o jogo onde estiver”, diz Renan. E o celular entrega exatamente isso: diversão imediata, sem complicação.

Mas os jogos mobile também se tornaram um espaço de expressão. A Geração Z quer se ver representada — e os avatares passaram a refletir essa identidade. “Geralmente, eles precisam ter uma vida dentro do jogo, porque ali têm um avatar, uma persona”, aponta Maite. Renan concorda: “O jovem quer se demonstrar de uma maneira mais única e especial. O tênis que ele coloca no jogo, ou a cor de cabelo, está muito mais ligado à identidade de quem se é do que ao consumo em si”.

Esse apego à personalização não é só uma vaidade: é uma estratégia de engajamento em um mercado onde a disputa é pela atenção constante. “A gente vive na economia da atenção. E os jogos fazem isso oferecendo novidades o tempo todo, como skins limitadas, personagens novos, itens exclusivos”, diz Renan.

Com tanta gente jogando, o mercado só cresce. Em 2025, a previsão de receita com jogos mobile no Brasil é de 600 milhões de dólares. Um número robusto, mas ainda tímido quando comparado aos Estados Unidos, com seus 36 bilhões. “Temos muito a caminhar, mas estamos falando de números expressivos. O Brasil é um mercado muito interessante, com mais de 100 milhões de pessoas jogando de alguma forma”, afirma Renan. Maite reforça: “O Brasil é um mercado muito interessante para essas empresas, primeiro porque a gente tem mais de 200 milhões de habitantes”.

E para alcançar de fato esse público, não basta só traduzir o jogo. É preciso localizar. “As empresas entenderam que precisam localizar seus jogos para o português brasileiro. Não é simplesmente traduzir como um robô”, afirma Maite. Renan complementa: “Elas começaram a entender que precisam localizar os jogos, porque não é só traduzir. É localizar bem”.

O reflexo dessa mobilização também se vê nos e-sports, onde os campeonatos mobile ganham espaço e criam um ecossistema próprio. “Estamos falando de um ecossistema econômico girando em torno do jogo: eventos, transmissões, times, jogadores, premiações e profissionais envolvidos em tudo isso”, destaca Renan. Maite conclui: “Você está falando de um jogador que se dedica, consome mais e pode até ganhar dinheiro com premiações ou patrocínios”.

No fim das contas, jogar no celular deixou de ser um plano B — virou o caminho principal para milhões de brasileiros entrarem, se expressarem e até trabalharem no universo dos games. Como resume Maite Lorente: “É entender economicamente, de forma mais macro, o país e a relação com outros mercados. E também entender quem é o tipo de pessoa que está jogando”. E como reforça Renan Barreto: “A cultura gamer está se transformando e se expandindo com o mobile”.