Últimas notícias

Ansiedade tem ligação direta com a gordura corporal, revela estudo inédito

Ansiedade tem ligação direta com a gordura corporal, revela estudo inédito
Publicado em 21/05/2025 às 3:11

Um estudo inovador acaba de revelar uma conexão biológica entre ansiedade e gordura corporal, desafiando a visão tradicional de que essa relação seria apenas comportamental. Publicado na Nature Metabolism por cientistas da Universidade McMaster, no Canadá, o estudo descreve, pela primeira vez, uma via fisiológica real entre o tecido adiposo e os circuitos cerebrais associados à ansiedade.

Gordura ativa o cérebro: a nova rota da ansiedade

Historicamente, acreditava-se que a ansiedade e a obesidade estavam ligadas por fatores sociais ou psicológicos: pessoas ansiosas comeriam em excesso para aliviar emoções, enquanto pessoas com sobrepeso desenvolveriam ansiedade por conta do estigma e da pressão estética. No entanto, os pesquisadores canadenses identificaram um mecanismo bioquímico direto entre o estresse, o tecido adiposo e a ativação de áreas cerebrais ligadas à ansiedade.

Segundo o estudo, sob estresse psicológico, o corpo ativa o conhecido modo de “luta ou fuga”, o que desencadeia a lipólise — processo que quebra a gordura corporal para liberar energia. Com isso, o tecido adiposo libera ácidos graxos e glicerol, que ativam células do sistema imunológico. Essas, por sua vez, liberam uma proteína chamada GDF15, que age como um hormônio.

Estudo revela conexão biológica entre ansiedade e gordura corporal – iStock/undefined undefined

Essa substância viaja até o cérebro e se liga ao receptor GFRAL, ativando circuitos neurais relacionados à ansiedade. Ou seja, o estresse ativa a gordura corporal, que então envia sinais químicos ao cérebro, aumentando a sensação de ansiedade.

Estudo com camundongos comprova a ligação

Os testes foram realizados com camundongos, que receberam injeções de adrenalina para simular o estresse. Após o estímulo, os pesquisadores observaram comportamentos típicos de ansiedade nos animais, além de alterações significativas no tecido adiposo e na composição do soro sanguíneo.

Esses resultados mostram que as respostas metabólicas do corpo afetam diretamente o estado emocional, estabelecendo uma ponte entre o metabolismo e a saúde mental. Pela primeira vez, ficou demonstrado que substâncias liberadas pelo tecido adiposo conseguem ultrapassar a barreira hematoencefálica e influenciar o cérebro.

Implicações: novo olhar sobre ansiedade e obesidade

A descoberta tem grande impacto na forma como entendemos doenças mentais e metabólicas. Segundo o autor sênior do estudo, Gregory Steinberg, a pesquisa “abre caminhos para tratamentos inovadores”, especialmente para pessoas que sofrem de ansiedade crônica.

Já o primeiro autor, Logan Townsend, destaca que, ao invés de focar exclusivamente no cérebro ou em aspectos comportamentais, a nova abordagem propõe intervenções nas vias metabólicas. Por exemplo, bloquear a proteína GDF15, já testada em tratamentos contra o câncer, pode se tornar uma estratégia viável para combater a ansiedade associada ao estresse crônico.

Tecido adiposo: mais do que armazenamento

Outro ponto importante da pesquisa é a revalorização do papel do tecido adiposo. Muito além de um simples “estoque de gordura”, o estudo mostra que a gordura corporal funciona como um órgão endócrino ativo, influenciando diretamente o cérebro e o comportamento.

Essa perspectiva ajuda a desconstruir mitos e estigmas associados à obesidade e à ansiedade, afastando a ideia de que esses quadros sejam unicamente fruto de “falta de força de vontade” ou escolhas erradas. Ao demonstrar que há mecanismos fisiológicos concretos em ação, o estudo reforça a importância de olhar para a saúde mental e metabólica de forma integrada.