ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS: QUANDO A AJUDA VIRA PRESSÃO.

ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS: QUANDO A AJUDA VIRA PRESSÃO.
Publicado em 09/06/2025 às 8:45

Colunista: Henrique Toioda Salles é advogado tributarista, mestrando em Direito Internacional. Atua como articulista  e pesquisador com foco nas intersecções entre Direito, política global e estruturas de poder.

É comum ouvir que as Organizações Internacionais, como a ONU ou o FMI, existem para promover paz,
desenvolvimento e cooperação, mas quando observamos o que acontece na prática, percebemos que
essa ajuda vem com um pacote de exigências que muitas vezes limita a autonomia dos próprios países.
Não se trata apenas de acordos ou recomendações bem-intencionadas: são pressões diretas que
moldam leis, influenciam políticas públicas e, em alguns casos, geram mais problemas do que soluções.
Tomemos como exemplo o FMI que, para liberar empréstimos a países em crise, impõe condições
rigorosas: cortes de gastos sociais, privatizações, mudanças em leis trabalhistas. Foi assim na Argentina,
nos anos 2000, quando o “ajuste” recomendado resultou em colapso econômico e crise institucional. Em
vez de estabilidade, o que se viu foi um país mergulhado em desemprego, desigualdade e revolta. E não
foi um caso isolado. Na Grécia, reformas exigidas durante a crise europeia tiveram efeito semelhante:
contenção fiscal à custa do bem-estar da população.
Mesmo quando as imposições não vêm por dinheiro, vêm pela reputação. Países que ignoram certas
diretrizes da ONU, por exemplo, podem sofrer retaliações diplomáticas ou perder acesso a acordos
comerciais. Isso sem falar nas “recomendações” de organismos internacionais que, embora não sejam
obrigatórias, acabam influenciando mudanças internas como se fossem. É o caso de leis que precisam
ser adaptadas para atender metas ambientais, de direitos humanos ou comércio exterior. A questão é:
até que ponto isso representa cooperação e em que momento começa a ingerência?
Nem todos os países aceitam isso pacificamente. A Malásia, durante a crise asiática, rejeitou os pacotes
do FMI e traçou seu próprio caminho e conseguiu se recuperar. Já a Venezuela, ao contrariar essas
organizações, pagou caro com isolamento internacional. O problema é que, ao resistir, o país pode
manter sua autonomia, mas se afasta dos benefícios e apoios externos. É um jogo de perde-perde.
Além disso, as próprias estruturas dessas organizações revelam uma clara assimetria de poder.
Enquanto os países desenvolvidos concentram decisões e votos, os países em desenvolvimento
recebem mais exigências do que voz. Fica difícil chamar isso de multilateralismo quando quem dita as
regras já entra no jogo com vantagem.
O mais preocupante é que, ao invés de resolver conflitos, essas organizações muitas vezes os
aprofundam. Basta lembrar que o Conselho de Segurança da ONU, com seus membros permanentes e
direito a veto, travou respostas importantes em guerras recentes por conta de interesses políticos. E
quando essas instituições falham, o mundo sente: populações civis pagam o preço, crises se prolongam
e a ideia de uma governança global justa parece cada vez mais distante.
No fim, a pergunta é simples: estamos diante de organismos de cooperação internacional ou de controle
político disfarçado? Talvez a resposta esteja em reconhecer que boas intenções não bastam quando as
decisões são tomadas por poucos e as consequências recaem sobre muitos. O mundo precisa de
instituições mais equilibradas, mais democráticas e menos interessadas em dizer o que cada país deve
fazer e mais dispostas a ouvir.

Acompanhe o trabalho do advogado e colunista do RCPNEWS: Henrique Toioda Salles.
Instagram: https://www.instagram.com/htsalles/
Linkedin: Henrique Toioda Salles