Da Cama ao Vazio: O que Resta Após o Sexo Imediato?

Colunista: Helena Cardoso.
Contadora, Orientadora Empresarial, Psicanalista e Palestrante nas áreas de Desenvolvimento Pessoal e Profissional.
A celebração da liberdade sexual como símbolo de empoderamento trouxe um paradoxo: enquanto prometia conexão e autonomia, resultou em uma epidemia de solidão, depressão e insegurança. Relacionamentos fluidos, marcados por encontros sexuais imediatos e desprovidos de tempo para a construção de laços, expõem diferenças biológicas, neurológicas e emocionais entre homens e mulheres que não podem ser ignoradas. Quando um casal vai para a cama logo após se conhecer, o que parece um exercício de igualdade desencadeia consequências psíquicas e emocionais profundas para ambos. A mulher frequentemente se sente usada e abandonada; o homem, embora pareça menos afetado, também enfrenta um vazio emocional que compromete sua capacidade de formar vínculos significativos. A mídia, ao objetificar a mulher, agrava esse cenário, manipulando desejos e perpetuando um ciclo de desconexão.
Biologicamente, homens e mulheres têm funções distintas. O homem, movido pelo instinto de procriação, é guiado pela objetividade e pela busca de segurança física. A mulher, com sua função de nutrir, carrega uma sensibilidade voltada à subjetividade e à segurança emocional. Quando o sexo ocorre sem o tempo necessário para que ambos se conheçam, a mulher tende a criar expectativas de afeto que o homem, impulsionado por impulsos imediatos, raramente corresponde. Em nome de uma pseudoigualdade, muitas mulheres tentam emular o desapego masculino, negando seus sentimentos, mas sua natureza emocional as leva a sentir abandono, rejeição ou desvalorização. O homem, ao alcançar seu objetivo biológico sem esforço, perde o incentivo para investir na relação, mas isso não o isenta de prejuízos emocionais. Ele também enfrenta consequências, muitas vezes menos visíveis, mas igualmente devastadoras.
Para a mulher, o impacto emocional é imediato: o sexo sem conexão gera um sentimento de uso, como se sua humanidade fosse reduzida a um objeto de prazer. Ela pode interpretar a ausência de continuidade como rejeição pessoal, alimentando inseguranças e a sensação de desamparo. Para o homem, as consequências são mais insidiosas. Condicionado a priorizar a conquista física, ele é desencorajado de explorar sua própria vulnerabilidade emocional. A repetição de encontros casuais reforça uma armadura de desapego que, com o tempo, o isola de conexões autênticas. Esse padrão, embora socialmente validado como expressão de masculinidade, gera uma solidão inconsciente. Homens relatam, em contextos terapêuticos, um vazio existencial, uma incapacidade de formar laços duradouros e até mesmo uma desconexão de suas próprias emoções, resultado de uma cultura que glorifica o sexo sem compromisso.
A mídia intensifica esse ciclo ao objetificar a mulher e distorcer as dinâmicas relacionais. Propagandas, filmes, séries e redes sociais bombardeiam o público com imagens de mulheres hipersexualizadas, reduzidas a corpos que existem para atrair e satisfazer. Essa narrativa, muitas vezes vendida como empoderamento, sugere que a mulher deve se afirmar por meio de sua aparência e disponibilidade sexual, ignorando sua complexidade emocional. Para os homens, a mídia reforça a ideia de que o sucesso masculino está na conquista imediata, desvalorizando a responsabilidade afetiva. Influenciadores digitais e reality shows celebram a fluidez sexual como sinônimo de liberdade, criando uma cultura de instantaneidade que suprime o tempo necessário para conhecer o outro. Assim, a mulher é desumanizada, e o homem é condicionado a ver relacionamentos como transações, aprofundando a solidão de ambos.
Essa dinâmica não é uma questão de moralidade, mas de saúde psíquica. O sexo imediato satisfaz uma necessidade fisiológica primitiva, mas na dimensão imaginária do ser humano onde memórias e emoções se entrelaçam ele dispara gatilhos de dor e sofrimento. A dor, individual, é o machucado interno; o sofrimento, coletivo, surge da relação com o outro, do reconhecimento do desamparo. Para a mulher, o sofrimento vem da expectativa não correspondida de conexão; para o homem, da incapacidade de acessar ou expressar suas próprias necessidades emocionais. Movimentos que defendem a liberdade sexual frequentemente ignoram essas diferenças, estimulando ambos a se declararem autosuficientes. No entanto, a solidão inconsciente consome a todos, manifestando-se em síndromes de pânico, ansiedade, depressão e até comportamentos autodestrutivos.
Byung-Chul Han, em Psicopolítica, alerta para a manipulação dos desejos em nome de uma suposta liberdade. A mídia, ao vulgarizar sentimentos e emoções, transforma a liberdade em crise. Homens e mulheres, presos a discursos de igualdade que desconsideram suas diferenças biológicas e emocionais, tornam-se reféns de uma sociedade de vigilância que controla o que devem desejar. A objetificação da mulher intensifica seu sofrimento, enquanto a glorificação do desapego masculino aliena o homem de sua humanidade, deixando ambos à deriva em um mar de conexões superficiais.
A solução não está em medicamentos que mascaram o sofrimento, mas em reconhecer o vazio e dar espaço ao outro. Relacionamentos requerem tempo para que características, valores e sentimentos se revelem, criando laços que transcendam o imediato. A mídia, em vez de perpetuar a objetificação e o imediatismo, poderia promover narrativas que valorizem a conexão humana em sua complexidade. Homens precisam de espaço para explorar sua vulnerabilidade sem medo de julgamento; mulheres, de validação que vá além de sua aparência ou disponibilidade. Só assim transformaremos a dor em significado e o sofrimento em conexão, resgatando a humanidade que a pressa, a fluidez e a manipulação dos desejos nos roubam. Do contrário, o caminho da cama ao vazio continuará a ser uma jornada solitária para ambos.
Quer saber mais? Você pode entrar em contato com a colunista através do email: [email protected]