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Combinação de remédios reverte sintomas de Alzheimer em estudo promissor

Cientistas da Universidade da Califórnia em São Francisco, nos Estados Unidos, descobriram uma abordagem revolucionária que pode mudar os rumos do tratamento da doença de Alzheimer.
Usando uma combinação de dois medicamentos já aprovados para o tratamento de câncer, letrozol (usado contra câncer de mama) e irinotecano (utilizado contra câncer colorretal), os pesquisadores conseguiram reverter déficits de memória em camundongos geneticamente modificados para apresentar sintomas da doença.
Os resultados do estudo foram publicados na revista científica Cell em 21 de julho de 2025.
Ao contrário das terapias tradicionais, que focam apenas no acúmulo de placas amiloides ou proteínas tau, essa nova estratégia atua de forma ampla, atingindo diferentes tipos de células cerebrais ao mesmo tempo, como neurônios e células gliais.
Abordagem multialvo desafia terapias convencionais contra o Alzheimer
Com base em dados genéticos de cérebros humanos e registros médicos, os pesquisadores identificaram que o Alzheimer afeta diferentes células cerebrais de formas específicas. Os neurônios apresentavam alterações genéticas ligadas à comunicação entre células, enquanto as células gliais mostravam falhas em processos de suporte e limpeza do cérebro.
A terapia combinada foi testada em 80 camundongos divididos em quatro grupos. Apenas o grupo que recebeu os dois medicamentos juntos mostrou melhora significativa na memória, confirmada por testes comportamentais como o labirinto aquático de Morris.
Além disso, exames pós-tratamento revelaram menos inflamações, menos acúmulo de proteínas tóxicas e até aumento no volume do hipocampo, área crítica para a memória.
Dados de pacientes humanos apontam menor risco de Alzheimer com uso dos medicamentos
A análise de prontuários médicos fortaleceu ainda mais os achados do estudo. Pacientes com câncer de mama que usaram letrozol apresentaram uma redução de 53% na taxa de Alzheimer em comparação aos controles. Já aqueles com câncer colorretal que receberam irinotecano tiveram uma queda impressionante de 80% na incidência da doença.
Ambos os medicamentos têm a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica, condição essencial para que atuem diretamente no cérebro, e já são usados de forma segura na prática clínica.
Reversão genética e preservação da memória: o que os cientistas descobriram
Análises genéticas mostraram que a combinação dos remédios reprogramou as células cerebrais doentes para um estado mais próximo do saudável. Nos neurônios, genes responsáveis pela formação e manutenção das sinapses foram reativados. Já nas células gliais, genes relacionados à sustentação neuronal, à remoção de resíduos e à estabilidade estrutural do cérebro também foram restaurados.
Esse efeito amplo contrasta com os tratamentos recentes aprovados para Alzheimer, como o aducanumabe, que apesar de alvos promissores, têm eficácia limitada e riscos elevados de efeitos colaterais.
Esperança para milhões de pessoas, mas com desafios pela frente
Apesar dos resultados animadores, os pesquisadores alertam que ainda há um longo caminho até que essa combinação chegue aos testes clínicos em humanos. Um dos pontos de atenção é o fato de que a maioria dos experimentos foi feita com camundongos machos e, curiosamente, as fêmeas mostraram respostas menos consistentes ao tratamento, o que requer mais investigações, especialmente considerando que as mulheres são mais afetadas pela doença.
Ainda assim, a descoberta reacende a esperança em um cenário marcado por décadas de frustrações. A possibilidade de reutilizar medicamentos já existentes para combater o Alzheimer com mais eficácia e segurança pode representar uma virada no tratamento dessa doença que afeta mais de 50 milhões de pessoas no mundo.